

Uma lição de projeto eficiente. O baixo coeficiente de arrasto ajuda o peixe-cofre a ter velocidade equivalente a seis vezes o comprimento de seu corpo por segundo, usando como estabilizadores as bordas em forma de quilha da carapaça. O peixe-cofre serviu de inspiração para o Bionic Car da Mercedes Benz. O fluxo de vapores do teste num túnel de vento em Stuttgart comprova a excelente aerodinâmica do veículo que ajuda a melhorar seu consumo para 30 quilômetro por litro de combustível.
*É um resumo da matéria publicada na revista National Geographic no mês passado, mas quem quiser ler na íntegra( vale a pena viu ;) é só entrar no site National Geographic - Design da Natureza
O que tem nadadeiras como as da baleia, pele parecida com a do lagarto e olhos similares aos da mariposa?O futuro da engenharia."Cada espécie, mesmo aquelas extintas, é uma história de sucesso, otimizada por milhões de anos de seleção natural. Por que não aprender com o que foi lentamente aperfeiçoado pela evolução?" Andrew Parker (biólogo evolucionista)
"A biomimética nos proporciona um conjunto diverso de ferramentas e idéias, às quais normalmente não teríamos acesso."
Michael Rubner ( cientista de materiais)
"A gente não precisa reproduzir a pele de um lagarto para fazer um coletor de água; ou o olho de uma mariposa para confeccionar um revestimento anti-reflexivo, mas as estruturas naturais nos fornecem uma pista para o que há de útil em um mecanismo. E talvez a gente possa até mesmo aperfeiçoar tais aspectos."
Robert Cohen (engenheiro químico)
Biomimética ou
Tecnologia Biônica é uma disciplina que busca em estruturas naturais soluções para problemas na engenharia, na ciência dos materiais, na medicina e em outros campos.
Nesta matéria, a revista foca nos trabalhos realizados pelo biólogo evolucionista Andrew Parker, pesquisador vinculado ao Museu de História Natural de Londres e à Universidade de Sydney. Entre os trabalhos do Parker podemos destacar pesquisas que desembocaram em telas mais luminosas para telefone celular através da investigação da iridescência da borboleta e do besouro, assim como o revestimento anti-reflexivo dos olhos da mariposa.
Parker busca ficar inspirado até mesmo em uma natureza que já não existe mais: por exemplo, no olho de uma mosca que, há 45 milhões de anos, ficou preservada em âmbar, ele notou microscópicos enrugamentos que reduziam a reflexão da luz e esse mesmo tipo de estrutura agora passa a ser usado em painéis solares.
O trabalho de Parker é uma pequena parte do movimento cada mais vigoroso e global da biomimética. Abaixo segue uma lista de exemplos da pesquisa sobre a tecnologia biônica desenvolvidos em alguns países.
- EUA e Inglaterra: investiga as protuberâncias nas bordas de ataque dos lóbulos da cauda da baleia-jubarte a fim de construir asas mais eficientes para avião.
- Alemanha: estuda as penas primárias, similares a dedos, das aves de rapina com intuito de projetar asas cuja forma se altera durante o vôo, reduzindo assim o arrasto e aumentando o rendimento de combustível.
-Zimbábue: arquitetos estudam de que modo os cupins controlam a temperatura, a umidade e o fluxo de ar em sua toca, na expectativa de projetarem edifícios mais confortáveis.
O trabalho de Parker é uma pequena parte do movimento cada mais vigoroso e global da biomimética. Em Bath, na Inglaterra, e em West Chester, nos Estados Unidos, engenheiros estão investigando as protuberâncias nas bordas de ataque dos lóbulos da cauda da baleia-jubarte a fim de construir asas mais eficientes para avião. Em Berlim, na Alemanha, as penas primárias, similares a dedos, das aves de rapina levaram os engenheiros a projetar asas cuja forma se altera durante o vôo, reduzindo assim o arrasto e aumentando o rendimento de combustível.
No Zimbábue, arquitetos estudam de que modo os cupins controlam a temperatura, a umidade e o fluxo de ar em sua toca, na expectativa de projetarem edifícios mais confortáveis. No Japão, pesquisadores médicos conseguiram reduzir o incômodo das injeções com o uso de agulhas hipodérmicas com a ponta dotada de minúsculo serrilhado, semelhante ao da probóscide de um mosquito, que reduz a estimulação dos nervos. "A biomimética nos proporciona um conjunto diverso de ferramentas e idéias, às quais normalmente não teríamos acesso", comenta o cientista de materiais Michael Rubner. "Agora ela faz parte de nossa cultura de grupo."
Logo depois de nossa incursão no deserto australiano, voltei a me encontrar com Andrew Parker em Londres, dessa vez para acompanhar a etapa seguinte de sua pesquisa sobre o diabo-espinhoso. Desde a entrada do Museu de História Natural até o laboratório do cientista no sexto andar, atravessamos salões imensos, todos repletos de assombrosa variedade de organismos preservados. Em uma das salas, há enormes recipientes, que chegam à nossa cintura e onde se podem ver, mergulhados em álcool, semblantes de lontras-do-mar, sucuris, equidnas-ouriços e cangurus, para não falar em um recipiente de 20 metros que contém uma lula gigante. Aos olhos de Parker, essa não é simples coleção de espécimes, e sim "um reservatório de projetos geniais". Cada espécie, mesmo aquelas extintas, é uma história de sucesso, otimizada por milhões de anos de seleção natural. Por que não aprender com o que foi lentamente aperfeiçoado pela evolução?
Enquanto andamos, Parker explica que o brilho metálico e as cores deslumbrantes das aves e dos besouros tropicais não se devem a pigmentos, mas a características ópticas: microestruturas rigorosamente espacejadas que refletem comprimentos específicos de ondas luminosas. Essa cor estrutural, que não se atenua e é mais brilhante que qualquer pigmento, apresenta enorme interesse para os fabricantes de tinta e cosmético, assim como para os produtores dos pequenos hologramas estampados em cartão de crédito. O bico do tucano é um exemplo de estrutura leve e resistente (ele permite que a ave quebre nozes e ao mesmo tempo é leve o bastante para não lhe prejudicar o vôo), ao passo que os espinhos do ouriço-cacheiro e do porco-espinho são maravilhosamente resistentes e simples. A seda segregada pela aranha é cinco vezes mais forte, grama por grama, e bem mais flexível que alguns aços especiais.
No caso dos insetos, a abundância de características estruturais interessantes é assombrosa. O vaga-lume produz luz fria quase sem perda de energia (uma lâmpada incandescente normal dissipa, sob a forma de calor, nada menos que 98% da energia que consome), e o besouro-bombardeiro possui, em sua parte posterior, uma eficiente câmara de combustão que lança substâncias químicas escaldantes em eventuais predadores.
O besouro Melanophila, que costuma pôr seus ovos em madeira recém-queimada, é capaz de identificar a exata radiação infra-vermelha emitida por um incêndio florestal, permitindo-lhe localizar queimadas distantes a até uma centena de quilômetros. Essa característica estrutural vem sendo estudada pela Força Aérea dos Estados Unidos. "Eu poderia dar uma olhada em volta e, em meia hora, selecionar 50 projetos na área de biomimética", comenta Parker. "Procuro não passar por aqui no fim da tarde, pois acabo me entusiasmando e, quando vejo, já é meia-noite."
Há oito anos, em um desses surtos de criatividade que avançam noite adentro, Parker decidiu investigar o mecanismo de coleta de água de um besouro do deserto e, para tanto, construiu uma enorme duna de areia em seu laboratório. Da família dos tenebrionídeos, esse besouro é encontrado no deserto da Namíbia, na região sudoeste da África, um dos ambientes mais quentes e secos do planeta. O besouro recolhe a água da névoa matinal permanecendo de frente para o vento e, erguendo sua parte traseira, onde há protuberâncias hidrofílicas que capturam a névoa, faz com que ela se transforme em gotículas dágua, as quais em seguida escorrem por microcalhas enceradas e hidrofóbicas entre as protuberâncias e somente depois cheguem à boca do inseto.
Parker mandou trazer da Namíbia dezenas de besouros. Usando um secador de cabelo e vários nebulizadores e borrifadores, ele conseguiu reproduzir as condições no deserto da Namíbia com fidelidade suficiente para entender o mecanismo do besouro. Em seguida, voltou a reproduzi-lo em uma lâmina de microscópio usando pequenas contas de vidro no lugar das protuberâncias e modelando as calhas com cera. A despeito de todo o requinte das estruturas naturais, muitas delas são feitas de materiais corriqueiros, como queratina, carbonato de cálcio e sílica, associados de tal modo que apresentam extraordinária complexidade, força e resistência. O abalone, por exemplo, produz sua concha com carbonato de cálcio, o mesmo material do giz farelento. No entanto, ao organizá-lo em camadas de tijolos nanométricos dispostos de maneira alternada graças a um jogo sutil de proteínas, o molusco cria uma armadura tão resistente como se fosse de kevlar e 3 mil vezes mais rígido que o giz. O entendimento, em escala microscópica e nanométrica, das estruturas responsáveis pelas propriedades excepcionais de um material vivo é um passo essencial a sua recriação em laboratório. Por isso, é importante a Andrew Parker examinar agora a pele de um diabo-espinhoso preservado no museu com a ajuda de um microscópio eletrônico de varredura, na expectativa de vislumbrar as estruturas ocultas que permitem ao animal absorver e canalizar a água com tanta eficiência.
Parker nota uma série de nódulos enfileirados que parece descer até uma estrutura maior que serve de reservatório dágua. Por fim, mergulhamos em uma fissura na base do espinho e topamos com um campo alveolado e repleto de dentes, cada qual medindo 25 mícrons. "A-há!", exclama Parker, como Sherlock Holmes ao topar com uma pista. "Esta é obviamente uma superfície super-hidrofóbica, que canaliza a água entre as escamas." Um exame subseqüente da pele do diabo-espinhoso com a ajuda de um aparelho de tomografia confirma essa hipótese, revelando minúsculos capilares entre escamas que evidentemente servem para conduzir a água até a boca do lagarto. "Creio que descobrimos o segredo do diabo-espinhoso", comenta ele. "Agora podemos construir um protótipo."
Aqui entram em cena os engenheiros. Na etapa seguinte de criação de um dispositivo de coleta de água inspirado no lagarto, Parker encaminha suas observações e resultados experimentais para Michael Rubner e seu colega Robert Cohen, um engenheiro químico com quem já trabalhou em vários projetos de biomimética.
A conjunção das percepções biológicas e do pragmatismo da engenharia é essencial ao êxito da biomimética. No caso de Parker, Cohen e Rubner, a colaboração resultou em várias aplicações promissoras influenciadas no besouro da Namíbia e em outros insetos. E esperam que logo seja possível criar uma superfície sintética inspirada na pele do diabo-espinhoso.
Ainda que impressionados com as estruturas biológicas, Cohen e Rubner consideram a natureza apenas ponto de partida para a inovação. "A gente não precisa reproduzir a pele de um lagarto para fazer um coletor de água; ou o olho de uma mariposa para confeccionar um revestimento anti-reflexivo", diz Cohen. "Mas as estruturas naturais nos fornecem uma pista para o que há de útil em um mecanismo. E talvez a gente possa até mesmo aperfeiçoar tais aspectos." As lições extraídas do diabo-espinhoso podem melhorar a tecnologia de coleta de água que eles desenvolveram com base na microestrutura do besouro da Namíbia, e que estão empenhados em transformar em dispositivo de coleta de água, tinta à prova de grafite e superfície autodescontaminante para cozinha e hospital. Nada impede, porém, que o trabalho os leve a direções novas. Nos últimos tempos, eles só consideram um projeto de biomimética bem-sucedido quando há a possibilidade de ser aproveitado pelas pessoas. "Não basta descobrir estruturas maravilhosas na natureza", diz Cohen. "O que me interessa é como podemos transformar tais estruturas em algo útil no mundo real."
Claro que aí está todo o problema. Um dos reaproveitamentos mais promissores de projetos naturais é um robô inspirado em organismos vivos que possa ser usado em locais em que os seres humanos costumam ficar ou muito expostos, ou muito entediados, ou correr riscos em demasia. É imensa e evidente, contudo, a dificuldade de se construir um robô desse tipo. Ronald Fearing, professor de engenharia elétrica na Universidade da Califórnia, em Berkeley, decidiu enfrentar um dos maiores desafios nessa área: criar uma mosca robótica que seja rápida, miniaturizada e suficientemente manobrável para ser usada em tarefas de vigilância e operações de busca e salvamento.
Se uma mosca-varejeira tivesse voado para dentro do escritório de Fearing quando nos encontramos pela primeira vez, em uma quente tarde de março, com as janelas abertas para o verdejante campus de Berkeley, eu a teria enxotado ou esmagado sem hesitar ou pensar. Porém, no instante em que Fearing acabou de me explicar por que havia escolhido esse tipo de mosca como modelo de sua microaeronave, eu, de tão impressionado, já estava de queixo caído. Batendo as asas 150 vezes por segundo, ela paira, sobe e desce com assombrosa agilidade. Quando voa em linha reta, consegue fazer uma curva de 90 graus em menos de 50 milissegundos manobra que transformaria em ferro-velho até mesmo os nossos aviões militares mais avançados.
A chave para fazer funcionar esse inseto voador micromecânico (ou micromechanical flying insect MFI), segundo Fearing, não está no esforço de reproduzir a mosca, e sim na identificação das estruturas essenciais para sua capacidade de vôo e também no reconhecimento de maneiras mais simples e talvez melhores para a realização de operações extremamente complexas. "A asa da mosca é movida por 20 músculos, alguns dos quais só entram em ação a cada quinta batida de asa. Não há como não ficarmos admirados. Afinal, o que está ocorrendo ali?", comenta Fearing. "Algumas coisas são simplesmente misteriosas e complicadas demais para serem copiadas."
Depois que o neurobiólogo Michael Dickinson fez com que asas de plástico medindo 30 centímetros se movessem em meio a 2 toneladas de óleo mineral para demonstrar como uma batida em forma de U das asas mantinha a mosca no ar, Fearing conseguiu reduzir a complexidade da junta da asa a um dispositivo possível de ser fabricado. E o que ele produziu assemelha-se a um minúsculo diferencial automobilístico; embora desprovido da poesia dos 20 músculos da mosca, o dispositivo consegue realizar as batidas em forma de U na velocidade requerida. Para mover a asa, contudo, são necessários atuadores piezoelétricos que, em altas freqüências, podem gerar ainda mais força que os músculos da mosca. No entanto, quando solicitou aos técnicos que construíssem um atuador de apenas 10 miligramas, tudo o que obteve foram olhares de incredulidade.
Por isso, o próprio Fearing teve de botar a mão na massa e, com a ajuda de uma pinça, me mostra o resultado: uma diáfana varinha medindo cerca de 11 milímetros e com a mesma espessura do bigode de gato. Muitos dos outros minúsculos componentes de sua mosca também tiveram de ser fabricados por Fearing da mesma maneira, ou seja, usando um microtorno a laser e um sistema de construção de protótipo que lhe permitem projetar em um computador as peças infinitesimais, cortá-las automaticamente, prepará-las durante a noite e montá-las manualmente no dia seguinte com a ajuda de um microscópio.
Com o microlaser, ele recorta as asas do MFI de uma placa de poliéster de 2 mícrons, tão delicada que amassa com o menor sopro e por isso tem de ser reforçada com longarinas de fibra de carbono. As asas de seu modelo mais recente batem 275 vezes por segundo mais rápidas que aquelas do inseto de verdade , emitindo o zumbido característico da varejeira. "A fibra de carbono tem desempenho melhor que a quitina das moscas", comenta ele, com evidente satisfação. Em seguida, aponta para uma caixa plástica protetora na bancada do laboratório que contém a própria mosca-robô, uma delicada estrutura, semelhante a um origami, com tirantes de fibra de carbono e fios finíssimos uma traquitana que não se parece em nada com uma mosca de verdade. Ela consegue se erguer no ar, mas em vôo cativo. Fearing espera que o robô se eleve sozinho daqui a dois ou três anos, e depois reproduza no espaço todo o virtuosismo das moscas.
Quem quiser ver um robô biomimético já em pleno funcionamento ainda que em etapa inicial , basta atravessar a baía e ir a Palo Alto. Desde o século 4 a.C., quando o filósofo grego Aristóteles se maravilhou com uma lagartixa, "capaz de subir e descer pelo tronco de uma árvore em qualquer posição, mesmo de cabeça para baixo", as pessoas perguntam de que modo esses pequenos lagartos conseguem se locomover assim, ao arrepio da força de gravidade. Dois anos atrás, o especialista em robótica Mark Cutkosky decidiu solucionar esse enigma milenar construindo o robô Stickybot ("robô aderente"), inspirado na lagartixa e capaz de subir por superfícies inclinadas. Na verdade, as patas da lagartixa não são grudentas e parecem secas e macias quando as tocamos. Elas devem sua capacidade adesiva a filamentos com extremidades achatadas cerca de 2 bilhões deles por centímetro quadrado na parte inferior dos dedos. Cada filamento tem espessura de apenas algumas centenas de nanômetros. E são de tal modo pequenos que interagem em escala molecular com a superfície na qual se move a lagartixa, aproveitando as forças Van der Waals de baixa intensidade, geradas por efêmeras cargas elétricas positivas e negativas que provocam efeitos de atração e repulsão entre dois objetos adjacentes.
Para servir de coxim filamentoso nas "patas" do Stickybot, Cutkosky e o estudante de pós-graduação Sangbae Kim, o principal projetista do robô, confeccionaram um tecido de uretano com minúsculos pêlos com ponta de 30 micrômetros. Embora não sejam tão flexíveis ou aderentes quanto os filamentos da lagartixa, eles conseguem sustentar o robô, que pesa meio quilo, em uma superfície vertical. Mas a aderência, como descobriu Cutkosky, é apenas uma das habilidades da lagartixa. Para se mover com rapidez elas conseguem se deslocar em uma superfície vertical à velocidade de 1 metro por segundo , suas patas também necessitam se soltar da superfície sem nenhum esforço e de imediato.
A fim de descobrir como o lagarto faz isso, Cutkosky pediu ajuda aos biólogos Bob Full, especialista em locomoção animal, e Kellar Autumn, provavelmente o cientista que mais entende da capacidade de aderência das lagartixas em todo o mundo. Full e Autumn descobriram que a aderência das lagartixas é direcional: os dedos tornam-se adesivos somente quando puxados para baixo, soltando-se da superfície assim que se inverte a direção da força. Com base nessa característica, Cutkosky dotou seu robô de dedos com sete segmentos, os quais aderem e se soltam tal como os dedos da lagartixa.
Depois ele ficaria sabendo, graças a um artigo sobre a anatomia da lagartixa, que ela possui tendões ramificados que distribuem o peso de maneira uniforme por toda a superfície dos dedos. Eureca! "Quando vi aquilo, pensei, uau, isso é fantástico!" Em seguida, incorporou um "tendão" de tecido de poliéster nos membros do robô com o objetivo de distribuir melhor sua carga. Hoje, o Stickybot consegue se deslocar por superfícies verticais de vidro, plástico e lajotas de cerâmica esmaltada, embora ainda falte muito para ele fazer tudo o que faz uma lagartixa. Por enquanto, o robô consegue galgar somente superfícies lisas, arrastando-se a meros 4 centímetros por segundo, uma fração da velocidade de seu modelo biológico. O adesivo seco nas patas do Stickybot também não é autolimpante como o do animal e por isso logo fica inutilizado pela sujeira agregada. "Há muitos aspectos da lagartixa que tivemos de deixar de lado", comenta Cutkosky. Mesmo assim, várias aplicações práticas estão prestes a resultar desse trabalho. Para o patrocinador da pesquisa, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o interesse pelo robô está sobretudo na área de vigilância: um autômato capaz de subir pelas paredes de um edifício e lá ficar por horas ou dias poderia fazer o monitoramento de toda uma imensa área. Cutkosky, porém, já vislumbra inúmeros usos civis. "Estou tentando fazer com que os robôs cheguem a lugares em que jamais nos aventuramos", conta-me. "Gostaria de ver o Stickybot fazendo algo prático, seja como brinquedo, seja como ferramenta. Sem dúvida, seria ótimo se acabasse desempenhando algum papel humanitário ou de salvamento..."
Apesar de toda a força do paradigma da biomimética, e de todos os brilhantes pesquisadores que se dedicam a aperfeiçoar a tecnologia, essa busca de inspiração na natureza resultou em uma quantidade modesta de artigos produzidos em escala industrial, dentre os quais apenas um se tornou conhecido de todos o velcro, inventado em 1948 pelo químico suíço George de Mestral, com base no exame dos carrapichos que aderiram ao pêlo de seu cão. Além do laboratório de Cutkosky, cinco outras renomadas equipes de cientistas estão tentando reproduzir a capacidade adesiva das patas da lagartixa, mas até agora nenhuma conseguiu chegar próximo à aderência forte, direcional e autolimpante desses animais. Do mesmo modo, os cientistas ainda precisam recriar, com algum sentido prático, a nanoestrutura que assegura a resistência da concha do abalone, e diversas empresas de biotecnologia, todas dispondo de amplos recursos, acabaram falindo na tentativa de produzir seda artificial similar à da aranha. Por que é assim?
Alguns especialistas em biomimética responsabilizam a área industrial do setor, cujas expectativas de curto prazo no que se refere à conclusão e à lucratividade dos projetos se contrapõem aos períodos necessariamente longos de pesquisa. Outros se queixam da dificuldade de coordenar o trabalho conjunto entre as diversas disciplinas acadêmicas e industriais, algo essencial para se entender as estruturas naturais e reproduzir o que elas fazem. Todavia, o principal motivo para a biomimética não ter ainda alcançado a maturidade é que, do ponto de vista da engenharia, a natureza é excessivamente complexa. A evolução não "projeta" a asa da mosca ou a pata da lagartixa tendo em vista algum objetivo final, como o faria um engenheiro em vez disso, ela faz cegamente uma miríade de experimentos aleatórios, ao longo de milhares de gerações, que resulta em organismos pouco elegantes cujo objetivo é sobreviver o suficiente para produzir a geração seguinte e inaugurar a próxima rodada de experimentos aleatórios. Para tornar tão rígida a concha do abalone, 15 proteínas distintas realizam uma dança coreografada cujo entendimento vem sendo buscado por várias equipes de primeira linha. A força da seda segregada pela aranha não está apenas no coquetel de proteínas que a compõe mas nas misteriosas fiandeiras, em que 600 bicos produzem sete diferentes tipos de seda em configurações extremamente resistentes.
O caráter multifacetado de grande parte dos feitos de engenharia naturais torna difícil o seu entendimento e a sua reprodução. Por enquanto, ainda é impossível reproduzir estruturas nanométricas tão intricadas. A natureza, contudo, as produz sem o menor esforço, molécula por molécula, seguindo a receita de complexidade codificada no DNA. Como diz o engenheiro Mark Cutkosky, "o preço que pagamos pela complexidade no nível de escalas muito pequenas é imensamente mais alto que o pago pela natureza". A despeito disso, a distância que nos separa dos processos naturais vem sendo reduzida aos poucos. Com a ajuda de microscópios eletrônicos ou de varredura de forças, microtomógrafos e supercomputadores, os pesquisadores estão conseguindo avançar na decifração dos segredos nanométricos da natureza e também estão produzindo um conjunto de materiais avançados que os mimetiza de modo cada vez mais acurado.
Mesmo antes de se tornar um setor lucrativo em termos comerciais, a biomimética já é uma poderosa ferramenta adicional ao entendimento da vida. Bob Full, o especialista em locomoção animal de Berkeley, aproveita as novas descobertas na montagem de robôs que correm, escalam e se arrastam as quais, por sua vez, o esclareceram a respeito de algumas regras fundamentais dos movimentos feitos pelos animais. Ele concluiu, por exemplo, que todo animal terrestre, da centopéia ao ser humano, possui a mesma flexibilidade e, ao correr, gera a mesma energia relativa. Kellar Autumn, o especialista em aderência de lagartixa e antigo aluno de Full, costuma pedir emprestado componentes do Stickybot, de Cutkosky, para compará-los com estruturas naturais do lagarto e testar hipóteses biológicas que não podem ser verificadas na lagartixa.
"Não há problema em se aplicar uma pressão de 0,2 newton a um pedaço de adesivo de lagartixa e arrastá-lo em direção distal à velocidade de 1 mícron por segundo", diz Autumn. "Mas obrigue uma lagartixa a fazer o mesmo com sua pata. O que você vai conseguir é apenas uma mordida."
-Japão: pesquisadores médicos conseguiram reduzir o incômodo das injeções com o uso de agulhas hipodérmicas com a ponta dotada de minúsculo serrilhado, semelhante ao da probóscide de um mosquito, que reduz a estimulação dos nervos.
Ainda há estudos em desenvolvimento sobre:
- As características ópticas do brilho metálico e as cores deslumbrantes das aves e besouros;
- Bico do tucano, uma estrutura leve e resistente;
- A seda de aranha, cinco vezes mais forte e bem mais flexível que alguns aços especiais;
- A luz fria quase sem perda de energia produzidos pelos vaga-lumes;
e assim infinitamente...
Os pesquisadores só consideram um projeto de biomimética bem-sucedido quando há a possibilidade de ser aproveitado pelas pessoas. "Não basta descobrir estruturas maravilhosas na natureza", diz engenheiro químico Robert Cohen. "O que me interessa é como podemos transformar tais estruturas em algo útil no mundo real."
Um dos reaproveitamentos mais promissores de projetos naturais é um robô inspirado em organismos vivos que possa ser usado em locais em que os seres humanos costumam ficar ou muito expostos, ou muito entediados, ou correr riscos em demasia.

Recolhendo água através da pata, um diabo-espinhoso do deserto australiano é capaz de levar o líquido até boca por canaletas entre as escamas. Com base em mecanismo similar os cientistas esperam aperfeiçoar tecnologias de captura de água em regiões secas.

Ao examinar carrapichos em sua calça e no pêlo de seu cão após caminhar pelo mato em 1948, o suíço George de Mestral notou que a ponta de seus espinhos era curva, formando ganchos - e com base nisso inventou o velcro.

Traduzindo a força da baleia em energia eólica, Frank Fish ajudou a projetar pás de moinho de vento com nódulos inspirados nas nadadeiras da baleia jubarte.

Pele de tubarão. A água escorre pelas microrranhuras sem fazer turbilhão reduzindo assim o atrito. As escamas também desestimulam a adesão de cracas e algas - e serviram de inspiração para revestimento que logo poderão ser aplicados contra essas criaturas no casco dos navios da Marinha americana.
Revista: NATIONAL GEOGRAPHIC
Edição: ABRIL DE 2008
O DESIGN HOJE, mais do que nunca, precisa se inspirar na Mãe Natureza que por bilhões de anos buscou a perfeição através da evolução. Os problemas de design estão um pouco por todo o lado, e não apenas na decoração como aparentemente pode parecer. Assim, no DESIGN DE HOJE a necessidade de trabalhar em uma equipe multiprofissional se torna cada vez mais necessária em projetos buscando o desenvolvimento sustentável.
- Camila May
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